No auge dos anos 60, o jugo salazarista espreme todo o país. As populações do interior sufocam e abraçam o contrabando como forma de enganar a fome, todavia, o proveito residual não chega para alimentar famílias numerosas. A miséria perpetua-se enquanto o garrote da “Pátria” vai esganando crianças descalças, jovens soldados, homens e mulheres vergados ao peso da enxada. Partir em debandada, a “salto”, afigura-se como a única saída.
Porfírio, jovem pastor, é filho de uma lenda da raia. O contrabando pelas arribas do Douro, junto à aldeia de Bemposta, corre-lhe nas veias. O seu melhor amigo, Zé Malgueiro, lavrador e também contrabandista por necessidade, é o único com quem partilha o seu mais íntimo segredo: a paixão, arrebatadora e correspondida, pela mulher do temível cabo Peixoto. Carolina, esposa de uma autoridade, desterrada nos confins de um Trás-os-Montes atrasado e preconceituoso, desespera entre o dever e o prazer. Até ao dia em que o marido descobre a traição e procura vingança…
Filhos da Raia relata a extraordinária viagem de dois casais, desde os trilhos do contrabando pelas margens do Douro até Bordéus, numa França onde sopravam ventos de profunda mudança, em pleno Maio de ‘68. Esta é, sobretudo, uma história de coragem e esperança, que vai encontrando ecos na actualidade: se para os migrantes portugueses a maior provação era a muralha gelada dos Pirenéus, hoje são erigidos muros como obstáculo a outros “saltos” para a liberdade.