AMP Rodriguez foi uma das criadoras da projeto «Winepunk», história alternativa movida a vinho!
O segundo livro publicado, «Winepunk ano 2», encontra-se disponível em formato físico aqui e em formato digital aqui.
Fica aqui a entrevista à autora AMP Rodriguez:

Como é que se apresentaria aos leitores? Como resume o seu trabalho na escrita?
Antes de (sonhar em) escrever, lia muito. Portanto, antes de mais, apresento-me como leitora.
Escrevo para contar histórias. Seja na ficção científica, história alternativa, ou puramente ficcional como argumentatista – co-escrevi o Revolução (sem) Sangue, o meu foco são as ideias e o modo como são vividas.
Em poucas palavras, o que é o mundo Winepunk?
Um mundo ficcional de História Alternativa que decorre no arranque dos loucos anos 20, em que uma guerra civil acontece entre o Norte e o Sul de Portugal. Essa guerra aconteceu realmente, mas durante três semanas, sendo que neste mundo ficcional dura três anos. E o Norte recorre ao vinho do Porto como biocombustível, donde temos uma guerra movida a vinho e a fúria.
Quando é que começou o projeto Winepunk? Como foram os primeiros dias do projeto?
O projecto Winepunk começou em 2013, quando tropecei no episódio da Monarquia do Norte, em 1919, e na guerra curta e feroz que travou com a República Portuguesa.
As perguntas «E se tivesse durado três anos? E se eles tivessem recorrido ao vinho do porto como combustível?» foram imediatas.
Foi imediata a percepção que o que eu queria construir não seria possível só com uma pessoa. Falei com a Joana Neto Lima, que se juntou imediatamente ao projeto, e o entusiasmo do Rogério Ribeiro que se tornou “pai” da cronologia Winepunk, que é o fio condutor deste universo.
Nós os três somos os fundadores da Invicta Imaginaria, um coletivo criativo informal que se dedica a desenvolver o Universo Winepunk.
E no dia 18 de Abril de 2013, lançamos oficialmente o anúncio da criação deste universo, e da intenção de organizar uma antologia de contos originais Winepunk (https://invictaimaginaria.blogspot.com/2013/04/apresentacao.html).
No dia 6 de Maio de 2023, oficializamos a cronologia que dá mote ao cânone do Universo Winepunk, e que está disponível no blogue da Invicta Imaginaria mas também na Enciclopédia HYP, apoiada por fundos europeus, em que este Universo está atualmente a expandir-se como um gigantesco romance-em-mosaico (https://hyp.up.pt/cronologia/).
Como nasceu a primeira antologia Winepunk?
Lançámos o desafio:
“Todos estão convidados para participar e enriquecer o universo imaginário que povoa as ruas, praças e casas do norte deste nosso país.”
Recebemos submissões espontâneas.
Como era um Universo novo, houve muito trabalho editorial para preservar a voz e histórias de cada autor, mantendo coesão com um universo partilhado.
Apaixonei-me pelas histórias: Fui apaixonando-me por cada uma das histórias: desde a história de espionagem à de guerra nas trincheiras – um romance em mosaico.
Convidámos o Rhys Hughes a participar na antologia: o interesse e a história do Rhys mostrou-nos que era possível um Universo tão fora dos universos mais habituais da historia alternativa atrair o interesse de quem não era português.
Convidámos o Rui Alex para ilustrar, pois imaginei que o projeto Winepunk fosse mais que literatura, que fosse toda a construção criativa, cultural e artística dum universo de história alternativa de génese portuguesa e identidade distinta da imagética dos outros, como a vitoriana que é tão popular (e que eu gosto bastante, aliás).
Assim, a Sandra Maria Teixeira, foi convidada a desenvolver uma identidade gráfica para o livro. E finalmente, encontramos no Pedro Cipriano o editor ideal. O resto, como se diz, é história.
Como é que o mundo Winepunk se distingue de outros mundos alternativos?
Há mundos alternativos fascinantes. No entanto, há realmente características muito próprias no Universo Winepunk.
O universo Winepunk tem uma cronologia oficial, que atua como fio condutor – tanto como inspiração e agregador de histórias, o que não se encontra em muitos outros mundos alternativos.
Entre as histórias disponíveis, a variedade é tanta, de estilos, de subgénero, de episódios que são re-apropriados, que ultrapassa as nossas melhores expectativas iniciais…
Atraímos alguns dos melhores escritores de ficção especulativa é uma verdadeira medalha de honra, de que me orgulho muito. E espero atrair muitos mais, assim como talentos desconhecidos.
Além disso, o Universo e Projecto Winepunk vai para além das antologias portuguesas:
Tivemos o grato prazer de ter a Professora Fatima Vieira, Vice-reitora para a Cultura, Museus e Publicações da Universidade do Porto a prefaciar a primeira antologia. O interesse nela permitiu que desenvolvêssemos iniciativas apoiadas no Universo Winepunk até termos formado um consórcio internacional, com França e Espanha, e obtido financiamento para o projeto HYP – Hipóteses Que Preservas.
O principal objetivo criativo deste projeto é a enciclopédia de escrita criativa colaborativa, em cinco línguas, aberta à participação de todos, em microconto em formato enciclopédico.
A enciclopédia, que funciona como um romance-em-mosaico tem um alcance internacional sustentado pelo apoio europeu, e pelas instituições que a implementam, a Universidade do Porto, a Universidad de Vigo, e a École Practique des Hautes Études, de Paris.
Finalmente, num mundo em que os universos alternativos já tem uma ‘imagem’ cristalizada, como o steampunk, poder construir em colaboração um universo novo é bastante apelativo do ponto de vista criativo.
Como é que o projeto Winepunk convida os novos autores portugueses a mergulhar na escrita?
Em primeiro lugar, lançamos sempre uma chamada de submissão de contos para cada antologia.
Em segundo lugar, os autores podem participar num projeto internacional, através da construção coletiva da Enciclopédia HYP.
Para quem gostar da segunda antologia Winepunk, que outros livros de autores portugueses recomenda?
Vários, pois o que não falta são bons autores portugueses.
Desde o Nuno Ferreira, ao Carlos Silva, aos veteranos João Ventura e João Barreiros, presentes em tantas antologias, coletâneas ou romances, as sugestões são imensas.
Mas queria também falar dos que não estão nas antologias.
Um dos contos portugueses que mais gostei de ler nos últimos anos foi o Rogos e Mitos, da Inês Montenegro que integra a antologia ‘O Resto é paisagem’, organizada pelo Luis Filipe Silva.
Outro romance que apreciei foi o «As Sombras e Lázaro» do Pedro Lucas Martins.
Ambos estes exemplos prenderam-me à história, que é a qualidade essencial para o prazer de ler.
Podes encontrar os livros «Winepunk» em formato físico aqui e em formato digital aqui.