Em Anjos de Carlos Silva, o terramoto que assola Lisboa num futuro próximo não representa a crítica divina de uma sociedade falhada, nem o castigo dos ímpios, mas uma sacudidela importante que espanta as baratas e as faz saltar dos ninhos, atraídas pelo faro do dinheiro fácil, sujo, corrupto. (…) Entram em cena os controladores desta peste, Anjos por auto-baptismo, querendo talvez preencher o vazio teológico dos novos tempos, cuja clandestina militância vai derrubando poderoso atrás de poderoso. Mas é da natureza dos Anjos caírem em tentação, serem caçados, perderem o rumo. Pois entre nós há demónios, impiedosos, insuspeitos, humanos.
Luís Filipe Silva